quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Desenvolvimento da Criança

Foram muito significativos os estudos e aprendizagens construídas na interdisciplina de Psicologia principalmente sobre o desenvolvimento da criança.
Para a epistemologia genética a ação é promotora de aprendizagem. Piaget acreditava que a aprendizagem acontece a partir da ação do sujeito, sendo que essa ação pode ser física ou mental.
De acordo com o referencial Piagetiano, a inteligência não é inata, porém a gênese da razão, da afetividade e da moral acontece progressivamente através de estágios sucessivos, onde a criança organiza o pensamento e o julgamento. O saber é construído e não imposto de fora. Dessa maneira, o desenvolvimento moral acontece juntamente ao desenvolvimento lógico, com aspectos paralelos de um mesmo processo geral de adaptação. Piaget escreveu sobre a construção da moralidade. Nesse texto o autor defende a necessidade de se educar moralmente e fala sobre a importância do papel das relações sociais (interação)nessa educação. Piaget diz que tanto as relações de coação como as de cooperação são importantes.Em um primeiro momento, a coação se faz necessária para que a criança conheça as regras e tenha noções sobre o bem e o mal, o certo e o errado.Estudando a construção da moralidade infantil, descobriu que o desenvolvimento das crianças mostra duas tendências basicamente opostas de moral: “ a moral do dever ”, ou heteronomia, onde uma criança segue as regras fixadas pelas autoridades que a rodeiam pais, irmãos mais velhos, etc, e as obedece por temor à perda de afeto ou ao castigo. É uma moral fruto de um tipo de relação social em que predomina o respeito unilateral e que Piaget chamou de coação; e a “moral do bem”, ou autonomia, resultado da formação na qual a criança pode se ver cada vez mais livre de autoridades e capaz de construir normas entre iguais. É necessário e inevitável que a criança passe pela fase da heteronomia, de obediência à autoridade, para que, depois, o espírito de cooperação possa ser construído, através do respeito mútuo e da reciprocidade. O objetivo da educação moral é a de auxiliar a criança em construir sua autonomia.A educação moral, para Piaget, não constitui uma matéria especial de ensino, mas um aspecto particular da totalidade do sistema, dessa maneira as crianças não devem ter “aulas” de educação moral, mas vivenciar a moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes na escola. Assim os trabalhos em grupo são uma atividade facilitadora para a construção da autonomia, pois as crianças trabalhando juntas trocando pontos de vista, discutindo, podem exercer a democracia. De acordo com Piaget, educar moralmente é proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir a sua moralidade.

“O adulto precisa saber introduzir as regras à criança, argumentando-as através de sua utilidade, pois, como serão referências iniciais para o agir moral, precisam estar amparadas principalmente pela argumentação. O uso das sanções, embora muitas vezes seja necessário para fazer com que a criança cumpra uma regra considerada importante, precisa estar acompanhado de muita argumentação e sentimento de cuidado e não por um simples“capricho” da autoridade.”

Neste sentido tenho uma experiência positiva e gratificante de sala de aula. Tive uma turma de terceira série, que apresentava muita dificuldade de relacionamento, então tive que buscar alternativas para melhorar o relacionamento no grupo, através de leituras sobre o assunto, diálogo possibilitando ao grupo a reflexão sobre as atitudes de cada um. Então resolvemos criar as regras da turma, onde houve muita participação e interação dos alunos. A partir daí, após certo tempo houve uma grande mudança no grupo, que começou a conviver com harmonia. Quando surgia um problema novo, era discutido pelo grupo e na maioria das vezes resolvido sem grandes dificuldades.
A turma continuava trabalhando tranquilamente, quando eu tinha alguma necessidade de me ausentar da sala de aula. Lembro-me de relatos, que nem sempre no horário estipulado para a turma ir ao banheiro, tinham essa necessidade. Então ficou combinado nas nossas regras que poderiam ir no banheiro, quando sentissem necessidade, um aluno por vez. Também funcionou muito bem o combinado, pois saiam e voltavam para a sala de uma maneira muito natural.
Também começamos a fazer várias atividades de integração da turma como piquenique nas proximidades da escola. Aula embaixo das árvores no pátio da escola, passeios pelo bairro, atividades recreativas.
Foi um trabalho com muita persistência e paciência até começarem a surgir os resultados.
Foi para a turma e também para mim uma experiência muito significativa, onde pude vivenciar juntamente com eles a mudança ocorrida no modo de agir de cada um, melhorando consideravelmente o relacionamento no grupo. Também começaram a apresentar valores importantes de respeito, cordialidade, cooperação, justiça, solidariedade no grupo e na comunidade a qual faziam parte.
É fundamental proporcionar em sala de aula, um ambiente de trabalho em equipe com muita interação entre aluno e professor o qual resulta em um processo de ensino aprendizagem mútuo, surgindo a medida que o tempo passa novos avanços, formando cidadãos críticos, criativos e conscientes do seu papel na sociedade.




Referências:

MARQUES,Tânia Beatriz Iwaszko. Epistemologia Genética e Construção do Conhecimento.

PICETTI, Jaqueline. Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança?

Cadernos FAPA - N. Especial VI Fórum FAPA – www.fapa.com.br/cadernosfapa 164
REFLEXÕES SOBRE A MORALIDADE NA ESCOLA

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